Bem Vindo!

sábado, 27 de agosto de 2011

Dom Clemente Isnard

 

     A notícia chegou rápida. Dom Clemente Isnard tinha falecido. Pelas seis da tarde do dia 24 de agosto de 2011, de repente, em conseqüência de parada respiratória, D. Clemente José Carlos Isnard concluía sua fecunda caminhada de 94 anos de vida, 74 de religioso beneditino, 68 de padre, e 51 de bispo. Como pedira a Deus, morria sem incomodar ninguém.
     Com a serenidade de sempre, concluía sua vida como quem encerrava uma Eucaristia bem celebrada. Ele que tinha dedicado à liturgia sua competência de perito e sua vivência de beneditino, terminava a vida como quem encerrava uma celebração tranqüila e harmoniosa. Morria transmitindo paz e garantindo bênção.
     O simbolismo da liturgia, que contagiou tanto a vida de Dom Clemente, envolve sua partida, como última lição deixada por ele. O cair da tarde evoca o declínio da vida. Às seis horas os monges acendem a lâmpada, que esconjura as trevas e ilumina as mentes. Da liturgia terrena, ele passou tranqüilo para a liturgia perene.
     Mas o simbolismo de sua morte não pára aí. Nestes dias finais de agosto, estávamos nos preparando para recordar Dom Helder e Dom Luciano, outros dois grandes bispos brasileiros, falecidos no mesmo dia, 27 de agosto, véspera da festa de Santo Agostinho.
A estes dois bispos que desenharam com suas vidas a grandeza da CNBB, se junta neste final de agosto Dom Clemente, outro gigante que engrandeceu o episcopado brasileiro com sua competência e seu testemunho. Parece a subida ao Tabor, acompanhada dos três testemunhas escolhidos por Jesus: Helder, Luciano e Clemente!
     Dom Clemente foi um grande esteio da renovação litúrgica de toda a Igreja, promovida pelo Concílio Vaticano II. Foi ele que transmitiu segurança e firmeza à caminhada litúrgica promovida no Brasil pela CNBB.
Sua nomeação para bispo de Nova Friburgo em 1961, foi de todo providencial. Iniciado o Concílio, ele foi logo identificado na CNBB como bispo de referência para assuntos litúrgicos. O primeiro tema abordado pelo Concílio foi justamente a liturgia. Dom Clemente se sentiu logo à vontade, como bom atleta que cai na piscina e nada de braçadas. Os bispos brasileiros sentiam firmeza nas orientações transmitidas por Dom Clemente.
Terminado o Concílio, foi logo eleito para presidir o Secretariado Nacional de Liturgia, a quem estava afeta a ingente tarefa de implementar a reforma litúrgica preconizada pelo Concílio. E ele desempenhou esta missão com muita segurança e sabedoria.
     Exerceu diversos cargos, tanto em Roma como no CELAM e na CNBB. Permaneceu trinta anos na mesma diocese, até se tornar bispo emérito, quando generosamente aceitou a incumbência de ser o Vigário Geral na Diocese de Duque de Caxias. O que o guiava não era a busca de status eclesial, mas o serviço à Igreja.
     Como bispo emérito, teve a coragem de expor suas reflexões sobre questões eclesiais muito complexas, manifestando seus sonhos de uma Igreja reformada à luz do Vaticano Segundo. Publicou o livro “Reflexões de um Bispo Emérito sobre as Instituições Eclesiásticas atuais”, que permanecerá certamente como expressão madura de sua coerência de pastor e de seu testemunho de profeta.
     Tive a honra de gozar de sua amizade e estima, que sempre me comoveram pela nobreza de suas manifestações. Em carta que me escreveu de próprio punho, em julho do ano passado, manifestou de maneira singela sua disposição de trabalhar, apesar de sua avançada idade. Escreveu ele textualmente: “Ainda gostaria de viver mais alguns anos para concluir certos trabalhos...” E lembrou o livro do seu grande amigo, Padre Bugnini, secretário da Comissão de Liturgia durante o Concílio.
     Dom Clemente concluiu a grande liturgia de sua vida aqui na terra. Que ele continue lá no céu intercedendo por nós. Precisamos de seu exemplo para sermos coerentes com a caminhada de renovação eclesial, proposta pelo Concílio, e assumida de maneira tão generosa por Dom Clemente.

Dom Luiz Demétrio Valentini

Bispo de Jales - SP

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Preparando o Encontro Arquidiocesano


Com muita expectativa já estamos nos preparando para o Encontro Arquidiocesano de Liturgia, a ser realizado entre os dias 21, 22 e 23 de outubro, na casa de retiro dos Salesianos, em Barbacena. Hoje, 24/08 estivemos reunidos em Barbacena, com representantes desta região a fim de defirmos as questões estruturais do encontro. Contamos com a participação e mobilização das regiões pastorais de nossa Arquidiocese para o bom êxito deste evento. As fichas de inscrições (praticamente1 vaga por paróquia) serão enviadas pelos regionais, às paróquias, no início de setembro. Participe conosco. Será uma grande oportunidade de convivência e aprendizado litúrgico.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

NOSSO LOGOTIPO


No dia 11 de agosto, os 15 participantes da reunião arquidiocesana, em Mariana, com representantes de todas as regiões, escolheram, por votação, o logotipo que identifica a Comissão Arquidiocesana de Liturgia.
O desenho representa o mistério que envolve a ação litúrgica. Por um lado, o mistério do Deus que se revela na força do seu Espírito sustentando e santificando a comunidade. E por outro lado, a resposta generosa do ser humano, representada pela prece que se eleva das mãos do fiel.
A circularidade e as cores do logotipo nos remontam ao tempo litúrgico, que com sua característica cíclica, nos eleva ao divino. Agradecemos a todos que participaram apresentando sugestões ou aprimorando o logotipo escolhido. Agradecimento especial ao autor do desenho, o Diác. Glauber Rodrigo, pela colaboração neste trabalho. 
Desse modo, tal desenho fica disponível para as equipes arquidiocesana, regionais e paroquiais o utilizarem. 
                                             Pe. Geraldo Buziani

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Assunção de Maria


“Todas as nações cantam as vossas glórias, ó Maria: hoje fostes exaltada acima dos Anjos, e triunfais com Cristo para sempre.” Eis a antífona da Missa da Vigília desta solenidade que confirma o que Maria havia rezado no Magnificat: “Doravante todas as gerações me chamarão bem-aventurada” (Lc 1, 48).
Celebrar a Assunção de Maria é reconhecê-la como bem-aventurada, ou seja, como aquela que goza da vida plena e feliz, por ter vivido inteiramente para Deus. Por isso, a Igreja celebra hoje em Maria a realização do Mistério pascal, do qual participou intensamente. Soube, assim, associar-se à vida e à paixão de seu Filho, por isso mesmo, quis o Pai, por ser ela a “cheia de graça”, associá-la também à ressurreição de Jesus, participando da plenitude de sua glória.
As leituras desta festa nos ajudam a contemplar este mistério na vida de Maria. O Evangelho no-la apresenta como bem-aventurada por que acreditou e com o seu sim, fruto de sua livre decisão em fazer a vontade de Deus, ela reconheceu que o Senhor fez grandes coisas em seu favor e que as nações chamá-la-iam bem-aventurada!
Alem disso, contemplamos na “mulher vestida de sol” e “coroada de doze estrelas” – imagem do povo de Deus, o antigo Israel e da Igreja vencedora na perseguição, no livro do Apocalipse – a figura também de Maria por ter compadecido de seu filho perseguido e rejeitado pelos seus, pois foi Ela quem deu à luz um filho que veio para governar todas as nações (cf. AP 12,5).
     Deste modo, contemplá-la gloriosamente assunta ao céu de corpo e alma é a certeza de que ela nos precede na glória e de que o homem todo se salva, como professamos no credo: “creio na ressurreição da carne”, pois em Cristo todos reviverão (cf. 1Cor 15,22). Por isso, “a virgem da Assunção é anúncio da meta final da redenção: a glorificação da humanidade em Cristo”.
                                                 
                                                           Pe. Danival Milagres Coelho

sábado, 13 de agosto de 2011

Aprofundando a Palavra


A Palavra de Deus, desde o AT, manifesta o desígnio universal de salvação, confirmado por Jesus que estende sua missão à região dos pagãos, Tiro e Sidônia e reconhece a fé da mulher cananeia.
A 1a leitura nos prepara para compreendermos o Evangelho, pois o Profeta Isaías nos revela a bondade de Deus e o seu desejo de conduzir ao seu monte santo os estrangeiros que aderirem a sua Palavra para servi-Lo (cf. Is 56,6). Tal desejo é manifestado por Deus mesmo que disse: “minha casa será chamada casa de oração para todos os povos” (Is 56, 7).
No Evangelho, Mateus procura responder aos problemas existentes na sua comunidade, composta de judeu-cristãos, sobretudo a tentação de se fechar e, por isso, apresenta Jesus que tem consciência que veio realizar sua missão entre as ovelhas perdidas de Israel, mas, no diálogo franco com a cananeia, Ele reconhece sua fé. Assim, sua missão se estende também aos pagãos. De fato, desde o início de seu evangelho, com a visita dos magos, Mateus apresenta a dimensão universal da salvação, uma vez que o povo da promessa não O acolheu.
Assim, Mateus chama atenção dos cristãos vindo do judaísmo à abertura aos pagãos, pois se o próprio Jesus reconheceu a fé da cananeia – “Mulher, grande é a tua fé!” – assim também a missão da Igreja, de anunciar o Evangelho, é aberta a todos os povos.
Enfim, se por um lado o fechamento dos judeus à fé em Jesus é reconhecido por São Paulo como desobediência; por outro lado, a rejeição deles à pessoa de Jesus foi reconciliação para o mundo (cf. Rm 11,15). Por isso, São Paulo, persevera em sua missão junto aos pagãos, estimulando-nos a ser uma Igreja aberta ao diálogo com todos, a fim de que a Boa Nova do Reino alcance a vida de todos pelos quais Jesus deu a vida.

Pe. Danival Milagres Coelho

Leituras da Semana: 15/8 Jz 2, 11-19; Sl 105; Mt 19, 16-22: 16/8 Jz 6, 11-24a; Sl 84; Mt 19, 23-30: 17/8 Jz 9, 6-15; Sl 20; Mt 20, 1-16a: 18/8 Jz 11, 29-39a; Sl 39; Mt 22, 1-14: 19/8 Rt 1, 1.3-6.14b.16.22; Sl 14; Mt 22, 34-40: 20/8 Rt 2, 1-3.8-11;4, 13-17; Sl 127; Mt 23, 1-12.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Em preparação para o retiro da região Norte


No dia 06 de agosto, sob a coordenação do Pe. Geraldo Buziani, o núcleo de liturgia do regional norte se reuniu, no centro de pastoral da região, para planejar e organizar o retiro do regional. O retiro está agendado para o dia 24 de setembro, tendo início às 8h e término às 19h e será realizado na Vila Samarco. Há a disponibilidade de 3 vagas para cada paróquia, sendo pedida a colaboração de R$10,00 por paróquia para ajuda nas despesas.
Outros assuntos tratados foram os encaminhamentos da região para o encontro Arquidiocesano de Liturgia e as sugestões para o plano de formação litúrgica de 2012.  Participaram da reunião 19 pessoas, representando as paróquias do regional. Também deixou sua palavra de apoio e incentivo ao trabalho litúrgico o nosso Vigário episcopal, Pe. José Eudes Campos Nascimento.

sábado, 6 de agosto de 2011

O ESPAÇO SAGRADO - Parte II

Presbitério da Igreja em Guapé.
O PRESBITÉRIO

“O presbitério é o lugar onde se encontra localizado o altar, onde é proclamada a Palavra de Deus, e nele o sacerdote, o diácono e os demais ministros exercem o seu ministério.
Convém que se distinga do todo da Igreja por alguma elevação ou por especial estrutura e ornato. Que seja bastante amplo para que a celebração da Eucaristia se desenrole comodamente e possa ser vista por todos” (Introdução Geral ao Missal Romano - IGMR 295). No Presbitério deve estar a Cadeira da Presidência, O Altar e o Ambão.
A cadeira da presidência manifesta a presença do Senhor Jesus na pessoa de quem preside a comunidade. Nos primeiros séculos do cristianismo, as Igrejas da Síria colocavam a cadeira junto ao espaço da palavra, que se situava no centro da assembleia. Desta forma, o presidente da celebração também se colocava junto com o povo e ministros, como ouvinte da palavra. Posteriormente, nas basílicas, a cadeira foi colocada no fundo da abside. Hoje temos que colocá-la da melhor forma possível, onde se possa ver a pessoa que tem a função da presidência. Nunca deverá ser colocada em frente ao altar.
O altar, diz a Instrução Geral, é a mesa da Eucaristia, é o centro da ação de graças que se dá pela Eucaristia, é o centro para o qual espontaneamente deve se dirigir a atenção da assembléia (Cf. IGMR 299).
“Segundo tradicional e significativo costume da Igreja, a mesa do altar fixo seja de pedra, e pedra natural. Convém que em toda Igreja exista um altar fixo, o que significa de modo mais claro e permanente Jesus Cristo, Pedra vida (1 Pd 2,4; cf. Ef 2,20); nos demais lugares dedicados às sagradas celebrações, o altar pode ser móvel. O altar ocupe um lugar que seja de fato o centro para onde espontaneamente se volte a atenção de toda a assembléia dos fiéis” (IGMR 298-301).
O ritual de dedicação das Igrejas manifesta com clareza a importância do altar. Ele é a única peça do espaço celebrativo que é ungida, aspergida, iluminada, vestida como no batismo. Estes gestos simbólicos-sacramentais manifestam a importância do altar e por isso não deve ser escondido com toalhas longas, sujas, de plástico e nem se deve enchê-lo de adornos de forma que a sua essência, “mesa do banquete”, seja camuflada, ofuscada. Ele é símbolo em si, portanto não precisa de toalhas cheias de bordados e outros elementos, pois o pão e o vinho são os sinais maiores que já vão estar sobre ele.
            O ambão é, por simbologia, o lugar do anúncio da Vida, do Cristo Jesus Ressuscitado. Na tradição cristã, tinha a forma de jardim, jardim onde o Cristo se manifesta como o vivente. É por isso que o Círio Pascal, símbolo do Cristo Ressuscitado é colocado ao lado do ambão no período Pascal. “De modo geral, convém que esse lugar seja uma estrutura estável e não uma simples estante móvel. O ambão seja disposto de tal modo em relação à forma da Igreja que os ministros ordenados e os leitores possam ser vistos e ouvidos facilmente pelos fiéis” (IGMR 309).

A NAVE
O elemento que deve guiar e qualificar a distribuição dos lugares no espaço sagrado é a eclesiologia da comunhão, que nós destacamos como sendo típica do Vaticano II, particularmente da Sacrosanctum Concilium e da Lumen Gentium. O povo de Deus tem a sua colocação no espaço, denominado nave.
Nave vem de navio, a comparação entre Igreja e nave está presente em diversos autores do cristianismo. O navio feito de madeira alia-se a madeira da salvação, a cruz. Outro elemento importante é que o navio nos leva de um ponto para o outro, remetendo a transitoriedade da Igreja.
Concretamente é preciso que a disposição do espaço sagrado esteja estruturada de tal maneira que possa apresentar a configuração da assembléia reunida e permita a participação disciplinada e orgânica de todos, favorecendo o desenvolvimento regular das funções de cada um.
As construções após o Vaticano II prestam-se à dinâmica da celebração litúrgica utilizando a forma circular, quadrada ou de um leque, evitando, qualquer aparência teatral, em que a assembléia se sente espectadora. Desse modo, os assentos da assembléia podem localizar-se ao redor da ação do presbitério que se estende na direção - e parcialmente dentro – da nave. Os fiéis vêem e experimentam a ação, mas também podem ver-se uns aos outros.

              IMAGENS SACRAS, A FONTE BATISMAL, A CRUZ E A ORNAMENTAÇÃO

            Relevância especial tem as imagens expostas na Igreja. Elas tiveram uma importante função na história da piedade cristã, catequética e mistagógica. A imagem enquanto extensão da Palavra é digna de sacralidade, cria aproximação, é mediadora de uma presença, nos conduz a uma comunhão, ou seja é uma ponte de comunicação entre o homem e Deus. Para melhor compreensão, façamos o histórico da imagem Sacra ao longo dos tempos:
            SINAGOGAL E CATACUMBAL: É a arte dos primeiros cristãos onde ela não era apenas descrita, mas também catequética. Não é uma arte que se preocupa com o aspecto físico de Cristo, mas sim com sua Divindade e com sua mensagem.
BIZANTINA: É a continuidade da anterior se instalando em sintonia com as basílicas. Nela é apenas a Palavra que rege toda a pintura, não sendo uma arte retratista, ela inverte a noção de perspectiva, a luz não vem de uma fonte externa, mas da própria pessoa representada, no caso os santos e de modo maior Cristo.
ROMÂNICA: É a continuidade da arte catacumbal em grande parte das basílicas do Ocidente, é ainda ligada à Palavra e tem o cunho de evangelizar pelas pedras, já que muitos não sabiam ler, é a Bíblia dos pobres.
GÓTICA: É o período onde o que mais importa é a noção de monumento que a de evangelização, é o início da quebra do sentido original de imagem. É a arte do período da cisão entre o Oriente e o Ocidente.
A ARTE RENASCENTISTA E ESCOLAS POSTERIORES: Uma vez quebradas as fontes originais, o homem se impõe cada vez mais a Deus, nasce uma arte onde o que mais importa é o autor e não mais o Mistério. Se a arte anterior se preocupava na celebração do Cristo, esta agora apenas na habilidade técnica do artista, é o início de um período puramente retratista.
Após o concílio Vaticano II, resgatando o estilo artístico dos primeiros cristãos, há uma busca de superação da imagem sacra puramente retratista que se preocupa em trabalhar o subjetivo, os detalhes e o apuro técnico do artista, do que com o Mistério Pascal e passou-se a buscar na representação a própria representação do Mistério, sem fugas e invenções.
A fonte batismal, local do novo nascimento, “porta de entrada para se fazer parte do “corpo místico”. Como define Cláudio Pastro ela pode receber três posições: separado ao edifício, na entrada da Igreja, junto ao presbitério unindo-o com a nave.
 A Cruz processional, recordação do Êxodo, da Vara que Moisés suspendeu no deserto. Segundo orientação do Missal Romano deve ser sempre levada na procissão de entrada e de envio ficando ao lado do altar. “Haja também sobre o altar ou perto dele uma cruz com a imagem do Cristo crucificado que seja bem visível para o povo reunido. Convém que essa cruz, que serve para recordar aos fiéis a paixão salutar do Senhor, permaneça junto ao altar também fora das celebrações litúrgicas” (IGMR 308).
Os castiçais: “são requeridos pelas ações litúrgicas para manifestarem a reverência e o caráter festivo da celebração (cf. n. 117) sejam colocados, como parecer melhor, sobre o altar ou junto dele, levando em conta as proporções do altar e do presbitério, de modo a formarem um conjunto harmonioso e que não impeça os fiéis de verem aquilo que se realiza ou se coloca sobre o altar” (IGMR 307).
A ornamentação da Igreja: “deve visar mais a nobre simplicidade do que a pompa. Na escolha dessa ornamentação, cuide-se da autenticidade dos materiais e procure-se assegurar a educação dos fiéis e a dignidade de todo o local sagrado”. (IGMR 292).
Do exposto, concluo com o que diz Farnés, o espaço existe tão-somente para o bem da ação litúrgica “O lugar da celebração não é, pois, nem um monumento artístico, nem um templo em que Deus habita, nem um lugar onde se veneram imagens ou se custodiam com respeito diversos objetos sagrados, nem um espaço dedicado a oração pessoal e ao contato íntimo com Deus. É inegável que o lugar da celebração pode servir também a essas finalidades; mas, de todo modo, é necessário reconhecer que se tratará apenas de aspectos secundários”.
                                            Pe. Luiz Claudio - Mariana - MG
                                                
                                             BIBLIOGRAFIA

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Espaço Litúrgico e Arquitetônico de uma Igreja - Parte I


Por ocasião da dedicação da Igreja Matriz do Sagrado Coração de Jesus, em Mariana, aproveito a oportunidade para falar sobre a importância do ESPAÇO LITÚRGICO.
Após a ressurreição de Jesus todo o espaço foi inundado pela vida em Cristo tornando-se sacramento da definitiva morada prometida por Deus. Jesus Cristo é o novo espaço aberto, sendo nossas Igrejas, lugar de celebração, de memória de sua presença. A comunidade para celebrar necessita de um espaço, um lugar no qual possa se reunir. De inicio a celebração se dava nas casas particulares. Como as comunidades cresciam, foi necessário organizar casas reservadas para a comunidade se reunir, a “domus eclesiae”.
Os primeiros cristãos de Roma logo não aceitaram o termo “Templo” já que é a comunidade o Templo do Espírito Santo. Dessa forma o espaço passou a receber o nome de Igreja, que é a finalidade do Edifício. O termo Igreja quer dizer “convocação”, a comunidade dos convocados, que celebram o acontecimento do Cristo. Fica claro então que o Edifício, a Igreja deve ser o lugar da Teofania, do encontro e manifestação de Deus. No momento em que a comunidade se reúne como Igreja, realiza a experiência do Deus Conosco, se torna clara a finalidade do Espaço Litúrgico: pelos Sacramentos e sacramentais Deus se manifesta e a Comunidade renova sua fé.
Segundo o renomado professor e artista sacro Cláudio Pastro “Toda a construção cristã e o que ali se celebra se espelha no livro do Apocalípse, capítulo 21 e 22: A Nova Jerusalém – a cidade do alto. É o lugar da presença, da manifestação e da revelação. O lugar pedagógico e da aliança: da assembléia convocada = Igreja; da oração (escuta da Palavra e do louvor); da aula magna = Palavra Viva-Hoje da memória Pascal; do Enlace e do convívio da Esposa com o seu Senhor; do Banquete do Cordeiro (sacrifício e ceia); do repouso; da adoração (em Espírito e verdade).” Isto nos faz refletir sobre muitas igrejas arquitetônicas, gestos, vestes, músicas, relações do faz de conta, que são mais contra-testemunho (sinais dyabolos) do que sinais de unidade.
A liturgista e arquiteta, Regina Celi de Albuquerque Machado, aponta alguns critérios para a organização do espaço Litúrgico (transcrevo aqui apenas algumas conclusões da exposição realizada no Encontro de Arte na Liturgia organizado pela CNBB): “Construir representa uma decisão muito séria, construir a casa do Povo de Deus é mais séria ainda. É a existência de uma comunidade de irmãos que está comprometida. Construir é fazer a experiência da criação. É um novo começo, uma nova vida, a criação de um mundo novo. Um mundo de fraternidade e liberdade, de comunhão e de graça, de recolhimento e de silêncio, de antecipação de uma realidade sonhada.
Construir ou organizar um lugar para abrigar uma comunidade com práticas litúrgicas é muito mais que levantar paredes e mobilizar o espaço. O espaço litúrgico precisa atender dois objetivos: ser funcional para as práticas que nele serão desenvolvidas e ser sinal do mistério de Deus, de Cristo e da Igreja. As pessoas envolvidas na construção devem conhecer a teologia do templo e a fé que anima aquela comunidade.
A maioria das nossas comunidades são pobres. Mais uma razão para que o pouco dinheiro que possuem, conseguido a duras penas, seja utilizado da melhor forma possível.
Não é porque se é pobre, o dinheiro curto, que se deve fazer um local para a celebração sem nenhuma técnica e sem nenhuma mística. O pobre, mais do que qualquer um, tem direito ao belo, que é Dom de Deus e está tão ausente da sua dura realidade.
O belo não está associado ao luxo. A arte é capaz de valorizar a matéria mais pobre e sublimar a forma mais simples. A simplicidade é o caminho mais fácil para atingir o belo e o sublime. Não é preciso encher o lugar da celebração com muita coisa, muita decoração, muito simbolismo. O espaço da assembléia, a mesa da Eucaristia, a mesa da palavra, o lugar da presidência e a liturgia já são carregados de simbolismo e bastam por si só.
Um lugar muito cheio de coisas tende a esvaziar a alma humana. O vazio, pelo contrário, tende a se encher pelo Espírito.
A construção de um local para a celebração só faz sentido se for feito por e para uma comunidade de fé concreta. O que vai sendo construída materialmente com tijolos estará sendo construído também no íntimo da comunidade.
A casa de Deus deve ser expressão da verdade que ela anuncia, sem falsidade, nem limitações. Os materiais devem ser puros e verdadeiros, nada de plástico, fórmica ou imitações de pedra e madeira. Nada deve ser associado ao descartável ou da sociedade de consumo.
A arquiteta, do Apostolado Litúrgico, Ms. Irmã Laíde Sonda, a convite de Dom Geraldo Lyrio Rocha fez o projeto modificando planta original de nossa Matriz, em sua visita nos orientou: “Hoje em dia se dá muita importância à decoração, ao acabamento das casas etc. Na Igreja, a “casa da Igreja”, também é preciso criar unidade, pensar no acabamento, apesar de existir uma diferença grande entre a casa individual e a casa da comunidade. O padre Cocagnac diz que decoração significa “glória”, algo intrínseco ao espaço e não um acréscimo, uma adereço posterior. Não se faz a Igreja para depois pensar nas peças. As peças e a sua colocação geram o espaço.
Outro aspecto é a questão iconográfica, simbólica do espaço. A Igreja é sinal, símbolo da Nova Jerusalém, do espaço transfigurado, da paz, da harmonia, da esposa vestida em trajes de festa para as núpcias. É um espaço cujo centro é o Cristo, o Cordeiro, presente no seu corpo, a comunidade, na palavra, na presidência, no pão e no vinho, na mesa preparada para o banquete.
Lembro um arquiteto austríaco que diz, em relação ao espaço sagrado: “A pobreza (entendida como limpeza, nobreza) é como o nada, causa náusea ao existencialismo e embriaguez divina ao místico”. Também o liturgista Romano Guardini afirma: “A falta de imagens no espaço celebrativo é em si mesma uma imagem.”
Deus precisa do vazio, do silêncio para se comunicar. Estamos atordoados por mil e uma imagens que a mídia dia após dia nos oferece. Quando as apresentarmos no espaço de celebração sejam pregnantes, plenas de verdade e, portanto, “imagens” de algo que as transcende, que está além do que elas representam.... manifestação do Mistério.
O Espaço deve transparecer Cristo presente na Comunidade reunida, na Pessoa de quem preside, na Palavra proclamada, nos Sinais sacramentais, na Mesa. Os elementos que manifestam esta presença devem formar um conjunto harmônico. A unidade se manifesta na matéria usada, nas cores, no design das peças.”
Segundo o artista e professor Cláudio Pastro “Na beleza das orações, da música, do culto, das paredes, o homem reconhece a grandeza do Celeste e constrói o humano. Ao longo da história desses 2000 anos de cristianismo, a arte nas Igrejas sempre foi a da “Bíblia Pauperum”. No lugar da celebração, a Escritura torna-se viva e o cristão pode namorar sua História da Salvação. E assim, pouco a pouco, ser formado, compreende figurativamente, que é parte de um povo, de um corpo mais amplo que sua pobre comunidade. Contemplando a nobreza dos gestos, as cores e os sons, se é convidado a repeti-los em comunidade e em sociedade passa-se do contemplado ao vivido”.
Do exposto fica claro que o espaço arquitetônico da Igreja é o reflexo da unidade da celebração, testemunha do invisível que é o próprio Deus. Testemunho e anúncio de nosso principal tesouro: Jesus Cristo. Sua disposição também Evangeliza. Para compreender seu significado, é preciso penetrar profundamente seu sentido.
                                                       
                                            Pe. Luiz Claudio Vieira - Mariana - MG